Desculpe, eu não vou!

Palmas começa a reabrir comércio, shoppings, academias. Pressão pela retomada vence a batalha num momento em que não há ampliação de leitos nem queda nos casos...

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Palmas começa hoje, segunda-feira, 8 de junho, o descontingenciamento de diversas atividades que estavam suspensas por decreto municipal, desde 19 de março. As primeiras medidas tomadas pelo município, por meio do Decreto Municipal número 1.862, de 22 de março, determinaram o fechamento de shoppings e galerias e terminou por fechar todo comércio não essencial no começo da propagação da Covid 19.

 

O caso 01, a advogada Kellen Pedreira, havia chegado de Fortaleza na primeira semana de março, vinha de um congresso, onde foi contaminada. Demorou algumas semanas para o palmense se deparar com a primeira morte por Covid, que vitimou a servidora pública municipal, Francisca Romana Sousa Chaves, no dia 14 de abril .

 

Nos primeiros 15 dias a cidade parou. Assustados, seus moradores preferiram ficar em casa. 

 

Agora, com a escalada dos casos subindo -  o final de semana foi tenso no HGP, conforme depoimento de um parente de um dos internados com a Covid – Palmas vai reabrir.

 

Esta semana, abre a primeira parte. Semana que vem reabre shoppings, academias. O único recuo da gestão foi segurar as praças e parques. Não sei se vai funcionar. Entidades aderiram a protocolos de segurança, mas as pessoas nas ruas voltaram a se aglomerar, retiraram as máscaras. O município no tem equipe para fiscalizar tudo isso. É uma tragédia anunciada.

 

Fui à coletiva da prefeita Cinthia Ribeiro, e ouvi atentamente os argumentos do secretário, Dr. Daniel Borini Zemuner para entrar no que chamam de “Fase Azul”, ou faixa azul.

 

A verdade é que do azul que tranquiliza, Palmas não tem nada nesta fase. Não tem ampliação de leitos. Nenhum sequer, para nos dar garantias de que a rede suportará o que vai acontecer conosco nas próximas duas semanas.

 

Não temos hospital de campanha,  a medida do Estado foi bloquear os leitos da iniciativa privada (ou seja, os mesmos que já existiam) e o número de novos respiradores mecânicos que recebemos do governo federal, por articulação do senador Eduardo Gomes foram 20.

 

Se o Brasil segue desgovernado, em fase de aceleração dos casos, superando a marca dos 35 mil mortos, no Tocantins não há queda, nem controle de casos.O estado contabiliza 5.644 casos confirmados da doença, destes, 2.477 pacientes estão recuperados e 3.068 estão ainda em isolamento domiciliar ou hospitalar, além de 99 óbitos.

 

Em Palmas, muito menos. A Capital informou que Palmas neste domingo, 8, conta com um total de 6.887 notificações para síndrome gripal (SG), no qual estão incluídos também os casos suspeitos para Covid-19. Destes, 3.268 foram descartados e 788 casos confirmados. Até o momento, oito pessoas já morreram na cidade em decorrência da doença. São 432 recuperados em Palmas, sendo 54,8% dos casos confirmados na capital.

 

Então, não há como ter esperança de retomada com segurança. Não existe segurança para retomar. Existe pressão. Muita pressão.

 

Pressão exercida nos últimos meses pela Acipa, por vereadores de oposição preocupados com seus projetos de reeleição, pressão de líderes religiosos. Pressão pela retomada do normal. Pressão pela reabertura.

 

É uma Ode à banalização da morte. São 70, 80, 90 mortos? Tudo bem... Dá pra aguentar. Vamos reabrir e salvar os empregos. Salvar os CNPJ’s, salvar os que não têm como atender a não ser presencialmente, salvar a economia.

 

Ah, Roberta, mas é preciso... afirmam alguns. Eu reconheço esse desespero como legítimo. Não estou aqui para julgar os que genuinamente querem defender o arroz no prato.

 

Julgo os que fizeram disso uma questão política, acima de uma questão de saúde pública. 

 

E de minha parte, desculpem, mas não vou. Não vou retomar a vida normal. Simplesmente por que não vencemos a pandemia.

 

Desculpe, não me chamem para reuniões presenciais, e cafés. Não vou. Farei o mínimo de movimentações possível.

 

Se for meu amigo, e me conhecer minimamente, não me chame para bares, não venha à minha casa. Estamos fechados. Estamos nos cuidando e cuidando dos que podemos, à meia distância.

 

O tocantinense, e em especial o palmense escolheu morrer de pé, trabalhando. Eu não.

 

Gasto o patrimônio, mínimo que tenho, reduzo a empresa, faço os cortes que for preciso. Mas escolho esperar. 

 

Desculpe, não vou nesta loucura. A onda pela reabertura é forte, mas tudo que abre antes da hora, tende a fechar.

 

Com cores e tons dramáticas. 

 

Em tempo: Lamento muito por todos os amigos que estão com parentes com a Covid, que estão perdendo seus amores de uma vida, sem poder velar nem enterrar.

 

Existem saídas. Pena que não as encontramos a tempo em Palmas. Vamos pagar por isso. Infelizmente.

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