Entre a razão e a emoção, Tocantins só tem a ganhar com eleição de Ciro e Kátia Abreu

Senadora Kátia Abreu consegue para o Tocantins que nenhum político goiano obteve: integra disputa presidencial, junto com Ciro Gomes. E busca apoio para vencendo, colocar o Estado noutro patamar

Luana Ribeiro recebe senadora Kátia Abreu
Descrição: Luana Ribeiro recebe senadora Kátia Abreu Crédito: Benhur Souza

Saiu no Estadão de sexta-feira, passada, 17 de agosto a seguinte nota que transcrevo:

 

“Em camarim reservado à família, no Prêmio da Música Brasileira (ver ao lado), Caetano Veloso avaliou como “correta” a escolha de Kátia Abreu para vice de Ciro Gomes. “Achei legal. É uma figura singular, é do agronegócio e foi a pessoa mais leal a Dilma. Teve uma coragem e sinceridade admiráveis”, disse o cantor à coluna.

 

Para o artista, Ciro procurou, com a escolha de Katia, ampliar sua candidatura, enfrentando dificuldades “tanto à esquerda quanto à direita”. E reafirmou, mais uma vez, que é de Ciro seu voto. “Adoro a Manu (Manuela D’Ávila). A Marina (Silva) é a única mulher nos debates, a única pessoa que não é branca e isso é uma coisa importantíssima. Adoro a Sonia Guajajara também”, acrescentou.

 

Observado por sua mulher Paula Lavigne, que vota em Guilherme Boulos, foi provocado: “ Se gosta desses outros, porque escolheu Ciro”? Caetano, sorrindo, respondeu: “Sou muito… racional”.

 

A nota foi publicada na Coluna Direto da Fonte, da jornalista Sonia Racy e espelha um pouco da divisão em que intelectuais e artistas estão diante das candidaturas de esquerda, centro e direita.

 

Sem florear muito, mas com o mesmo pragmatismo, encontrei um amigo, professor da UFT naquele domingo de convenções, com o seguinte discurso: “gosto da Manu, mas a gente tem que escolher um com chances reais de ganhar. Bolsonaro não dá”, resumiu. O voto dele já pendia para Ciro Gomes. 

 

Em seguida Manuela D’Ávila, candidata do PC do B, retirou seu nome para compor com o PT uma chapa “triplex”: Lula, Haddad e Manu.

 

O medo do discurso agressivo, tacanho, que afronta direitos duramente conquistados, é forte entre os que raciocinam, mais à esquerda, que era necessário ter havido uma unificação de candidaturas em torno de uma única, capaz de unir o Pais e resgatar um ambiente legítimo, democrático, de crescimento.

 

O Partido dos Trabalhadores insiste na candidatura de Lula - mesmo diante de toda inviabilidade jurídica que enfrenta com a prisão do ex-presidente, após condenação em segunda instância por corte colegiada - para demonstrar o caráter persecutório de todo processo conduzido pelo juiz Sérgio Moro, e referendado pelo TRF.

 

Se é inegável a estratégia da direita brasileira, derrotada seguidamente nas urnas, em inviabilizar a presença de Lula na disputa eleitoral deste ano, coube ao PT construir sua estratégia. E nela, ser apoiado pelo PC do B, que tinha na deputada gaúcha Manuela D’Ávila um ícone de presença leve, preparada e de espírito aguerrido na disputa presencial.

 

A fala de Caetano Veloso é forte ao valorizar a presença de candidatas mulheres na disputa. Mesmo Marina Silva, que já perdeu o timing para disputar a preferência do eleitorado, tem seu papel na discussão da retomada do processo de escolha democrática de um presidente, e garantia das condições para que ele finalize seu mandato. Sem golpe.

 

É nesse cenário, de mulheres compondo a vice em chapas presidenciais que vamos encontrar a senadora Kátia Abreu. Ela é dessas que desperta fortes emoções. Petistas de carteirinha que louvaram sua posição firme ao lado da ex-presidente Dilma Roussef, foram às redes atacá-la pela composição da chapa pura do PDT. Outros apressaram-se a reconhecer seu papel e a pedir respeito, no debate, à contribuição que ela deu naquele momento tão difícil para o PT e para o País.

 

Inteligente, preparado, político que não nega as origens e discute com desenvoltura qualquer tema de interesse nacional, Ciro Gomes escolheu Kátia pelo perfil, preparado.

 

Esta é uma característica que mesmo seus adversários reconhecem nela: Kátia Abreu cresceu muito nas últimas duas décadas, desde que se elegeu deputada federal, até o mandato de senadora, renovado por mais oito anos. Se inteirou dos grandes temas nacionais, e ultrapassou as fronteiras da defesa unicamente da sua base rural. Que não é das menos importantes, seja no PIB nacional, ou na vida diária dos brasileiros.

 

Fora do Tocantins, Kátia é mais reconhecida que dentro do seu próprio Estado. Natural, uma vez que é dentro da política tocantinense que enfrenta os maiores embates. Derrotada nas eleições suplementares, não deu “tempo ao tempo”, criticam alguns de seus adversários, ao se referir ao fato da senadora ter buscado logo unir as oposições em torno de um projeto só. No que não foi compreendida, nem teve sucesso.

 

Vendo nela uma ameaça interna, alguns ainda torcem o nariz diante do discurso que Kátia Abreu vem fazendo e que tem muita lógica: a presença de um tocantinense no Jaburu, na condição de vice-presidente da República, elevaria o Estado do Tocantins a um outro patamar. Traria de volta à discussão, o papel estratégico do Estado como última fronteira agrícola do País, sua posição geográfica privilegiada. Tantos projetos que podem - com apoio federal - abrir um novo momento de desenvolvimento econômico para o Norte e Nordeste brasileiros.

 

Ciro e Kátia é esta chapa. De centro. Que não assusta ninguém por posições extremistas e que pode ter êxito num segundo turno, caso chegue lá.

 

Em busca desta compreensão, a senadora iniciou uma série de conversas. Com prefeitos, deputados, instituições. Na semana que passou foi à Assembléia Legislativa, sob comando de uma mulher, a deputada Luana Ribeiro(PSDB), com quem tem bom relacionamento.

 

Esteve também com a prefeita de Palmas, Cinthia Ribeiro, onde foi muito bem recebida. Nas peregrinações, sempre o mesmo tom do discurso: a senadora se compromete a assumir um papel de neutralidade, sem tomar posição na disputa pelo governo, caso haja este entendimento em torno do seu nome, e consequentemente, de sua chapa.

 

Óbvio que cada partido tem nacionalmente um nome a apoiar. Construir este caminho não parece fácil, mas Kátia, tenta.

 

Voltando ao início, Caetano Veloso (que conhece muito bem o que foi a ditadura no Brasil) prefere ser… prático.

 

E os políticos tocantinenses? quantos terão a mesma coragem, ou seria maturidade,  para num ato de escolha mais racional do que emocional, encampar o discurso de apoio suprapartidário a Ciro e Kátia no Tocantins?

 

Nos bastidores ninguém duvida do bem que faria ter uma vice-presidente daqui. Independente de que partido seja ela.

 

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