Falha de segurança na CPP e a saída de Gleidy: bastidores de uma crise anunciada

Semana passada, quando Gleidy Braga entregou a carta de três páginas ao gabinete do governador Marcelo Miranda, a mesma “vazou” imediatamente, passando a ser distribuída via Whatsapp

Marcelo Miranda e Gleidy Braga
Descrição: Marcelo Miranda e Gleidy Braga Crédito: Governo do Tocantins

O sistema de segurança do governo do Estado, composto pelas polícias civil e militar, reagiu rápido à crise anunciada de que o “sistema prisional” poderia entrar em colapso - como chegou a me antecipar uma fonte, na semana passada - em resposta à saída da ex-secretária Gleidy Braga da Seciju (Secretaria da Cidadania e Justiça).

 

Imediatamente após detectada a explosão com dinamite na parede de concreto da CPP de Palmas, que dá acesso ao alambrado e de lá à mata onde 12 detentos fugitivos se esconderam na noite deste domingo, 5, a PM entrou em ação para evitar novas evasões. Eram mais de 20 presos no total, a caminho da liberdade antecipada. Dez foram interrompidos antes de ganhar a liberdade, segundo informa a secretaria em nota nesta manhã de segunda. Dois foram presos ontem e mais dois nesta madrugada.

 

A pergunta que não quer calar, já traz em si muito do que é esta “crise”: como a dinamite entrou na CPP?

 

Possivelmente da mesma forma que os demais explosivos apreendidos a cerca de três meses: pela porta da frente. Ou seja: na revista que não foi feita com o rigor adequado.

 

Como se vê, nada que possa ter acontecido em uma semana: planejamento, túnel, explosivos e execução da fuga. Os detalhes sobre como tudo isso aconteceu devem ser esclarecidos quando a investigação sobre a fuga da noite deste domingo for concluída. É algo que já vinha acontecendo, mas que encontrou todas as condições favoráveis para acontecer, no final desta semana.

 

O que está evidente é que a questão política que envolve a gestão dos presídios no Estado, e em especial da CPP, deu seu tom no fato ocorrido ontem. E requer a atenção do governo, responsável por garantir a segurança dos cidadãos. Se nada de mais grave aconteceu na noite deste domingo - apesar dos tiros disparados numa avenida da Capital por supostos fugitivos em garupas de motocicletas - não se pode garantir o que virá.

 

Semana passada, quando Gleidy Braga entregou a carta de três páginas ao gabinete do governador Marcelo Miranda, a mesma “vazou” imediatamente, passando a ser distribuída via Whatsapp com mensagens relacionadas ao fato do governo autorizar o pagamento dos serviços prestados pela Umanizzare, ao invés de “pagar a Assembleia” (sic).

 

Ato contínuo, fontes da própria Seciju, gente de confiança da ex-secretária passou a discutir em grupos e redes sociais, o fato de que Gleidy liderava bem os servidores da pasta e tinha a simpatia do “sistema”. Sua saída, alertavam, poderia gerar um colapso interno, crise, rebelião, fuga, ou “algo muito ruim” que manchasse a imagem do governador em nível nacional.

 

Nesses termos.

 

Seria cômico se não fosse trágico.

 

Bastidores de um desgaste que levou ao isolamento

 

O desgaste da secretária da Cidadania e Justiça Gleidy Braga na verdade não começou recentemente. Segundo informações que correm nos bastidores do Araguaia, ela se desgastou primeiro com os colegas do grupo gestor.  Pegou mal entre os colegas a pressão da ex-secretária para a nomeação dos aprovados para o cadastro de reserva. “Mesmo sabendo que o governo não teria como absorver o impacto dessas nomeações”, conta uma fonte, que complementa a informação afirmando que Gleidy teria apoiado a ocupação na porta da Secretaria, regada a bolacha Mabel, refrigerante e um carro de som em altos decibéis, com músicas e palavras de ordem. “Tudo para pressionar o governo do qual ela própria fazia parte”, reclamam.

 

Sem muito poder de articulação dentro do governo ou com o próprio governador Marcelo Miranda, Gleidy foi perdendo espaço. A gota d´agua teria sido suas declarações ao Jornal do Tocantins em que praticamente mandou recado, expondo publicamente o que tinha sido debatido durante seis horas numa reunião fechada no Tribunal de Justiça.

 

Na carta de demissão, a ex-secretária se atribui todo o mérito por conquistas de Estado, que foram de armamentos a programas implementados, sai atirando e acusa o governo, entre outras coisas, de estar querendo favorecer a terceirizada, Umanizzare.

 

Na nota que a empresa distribuiu à imprensa, a Umanizzare acusa a gestão da pasta de incluir e cobrar no relatório, itens que não estavam acordados no ajuste de conduta lavrado, dificultando propositadamente a liberação do pagamento pelo serviço medido. Literalmente, a ex-secretária entrou em guerra contra a empresa, com o governo sofrendo o chumbo trocado.

 

Enquanto o núcleo político discutia o novo nome para ocupar seu lugar, em reunião ocorrida no Palácio Araguaia, a carta de Gleidy foi distribuída em grupos da Assembleia Legislativa. Questionado sobre o pagamento da empresa (coisa de R$ 4 milhões), o governo informou ao T1, numa nota sucinta, que só paga por serviços medidos, ou seja entregues e atestados pelo fiscal do contrato, servidor de carreira, indicado para a função.

 

Na verdade os serviços atualmente executados pela Umanizzare – alimentação, rouparia, manutenção dos prédios, saúde e outros - não podem ser interrompidos. Lembra mais ou menos os serviços que a Litucera prestava, e que o governo interrompeu, deixou de pagar e sofreu em seguida o desgaste pela interrupção.

 

A própria justiça reconhece que é um risco que a população não pode correr, uma interrupção do contrato sem uma solução alternativa imediata e confiável para que o sistema continue funcionando. Aí sim, sem o devido planejamento, estaria gerado o colapso meio que anunciado pelos aliados da ex-secretária. 

 

No caso da CPP, em Palmas, onde ocorreu a fuga no domingo, a gestão é compartilhada. Ou seja: a responsabilidade nem pode ser atribuída diretamente à empresa.

 

A nova licitação para escolher quem substituirá a Umanizzare depende do andamento do processo que foi devolvido pela Procuradoria Geral do Estado para atender diligências que ainda faltam. Do jeito que vai, é muito provável que a licitação não seja concluída antes do encerramento do contrato com a empresa, que ocorre no próximo dia 30 de novembro. Isso, sem dúvidas, vai exigir do governo uma solução jurídica para que os serviços não sejam interrompidos.

 

O problema da ex-secretária Gleidy parece ter sido confiar que só o apoio de grupos de servidores seria suficiente para conseguir levar a frente a gestão da pasta, como pretendia. Se faltou articulação antes parece faltar prudência aos que ficaram, de dentro, fomentando uma crise.

 

O próximo alvo escolhido para o bombardeio é o Coronel Glauber, que assume nesta segunda o comando da pasta. A solução que o governo encontrou de forma rápida, estaria desagradando entidades civis ligadas à defesa dos direitos humanos. “Colocar um coronel da PM para cuidar de direitos humanos?”, já questionam, também via WhatsApp.

 

Como se vê, essa é uma crise que precisa de atenção política e não só dos aparelhos de segurança, para passar.

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