O imprescindível exercício de nascer de novo

Muita coisa despencou em 2016. O sistema podre e corrupto que alimenta a política nacional terminou de ruir... Como manter viva a fé e a esperança para passar por esse turbilhão? Só nascendo de novo

Encontrar motivo e se reinventar afinal é natal...
Descrição: Encontrar motivo e se reinventar afinal é natal... Crédito: Arquivo Pessoal

2016 foi punk. E eu sei, cruzem os dedos, por que ainda não terminou…

 

Sem muito ânimo para escrever regularmente sobre política -  "enfastiei", essa é a verdade - tenho deixado esse espaço ocupado pelo mesmo artigo por uma semana, às vezes até mais.

 

Minhas desculpas, caros leitores, mas é a fase. Vou tentar explicar.

 

Não faltam assuntos. Apenas cansei das mesmas repetidas histórias. Os fatos se repetem, os personagens mudam pouco. E há no ar uma indignação seletiva que me irrita. Aquela coisinha que vou apelidar de “cegueira de partido”.

 

Quem se auto-denomina direita (ou centro, para os mais comedidos) se joga contra tudo que possa cheirar à “esquerda”.  Meu Deus, que preguiça desses rótulos. Ultrapassados.

 

Se não há coerência ideológica nem nos partidos -  virou tudo salada mista - o que dizer de gente jovem que nem tem o hábito de ler? que não conhece os grandes pensadores, nem a teoria da luta de classes? E aí vira fã do Bolsonaro.

 

Sim, foi um ano difícil. Impeachment. Golpe. Temer assume, golpe de novo. Dessa vez na previdência, no dinheiro da Saúde, da Educação. Supersalários.

 

Olha… tá difícil digerir isso tudo sem vomitar. Até para mim, comentarista política já antiga na lida nesse ilustre Estado.

 

Por aqui, também foi pancada o 2016. Ex-governador preso. Operação da PF para todo lado. Grampos e mais grampos. Armações e rasteiras. Gente desesperada para voltar a comandar alguma coisa mesmo com a ficha emporcalhada de tão suja. E os filósofos de Twitter (o novo botequim), dizendo do alto de sua autoridade, que “não existem virgens no puteiro”. Perdão, aos mais conservadores, pela expressão…

 

E aí que de uma hora para outra, aquela indignação virou arroz de festa. Aquele cansaço de ver sempre mais do mesmo, acabou tomando conta de muita gente. Parece que já vimos esse filme muitas vezes, desde que o mundo é mundo e o Brasil é o Brasil. E o Tocantins é o Tocantins. 

 

Cansei a beleza. Está difícil falar das mesmas coisas com algum frescor, uma idéia nova, uma esperança.

 

E isso é por demais perigoso: a embaçada esperança ir se perdendo no meio de coisas velhas, foscas e sem brilho.

 

Parênteses.

 

Esta madrugada, depois que levantei e fiz minhas orações diante do sol, às 5h40, estava tentando me lembrar como foi que fui perdendo a vontade e o T. de fazer análise dos mesmos velhos fatos.

 

E aí a memória me remeteu aos anos dourados em que líder estudantil, eu acreditava em muita coisa. Candidata em 98, acreditava em muita coisa. Diretora do Procon, acreditava que era possível mudar muita coisa. Candidata em 2002, ainda acreditava…

 

Ufa. Era fé demais…rs.

 

Agora entendo que foi livramento ter perdido duas eleições no Tocantins. Sim, por que o sistema já era bruto, eu nem tinha dinheiro, nem voto. Dependia do partido e dos caciques para fazer campanha. Papel, gasolina e brindes. Apoios de prefeitos e vereadores. Dinheiro para pagar as planilhas apresentadas e as quantias exigidas pela troca de apoio. Naquela época podia até show para lotar comícios.

 

E se eu tivesse me elegido?

 

Se-nhor! Poderia estar numa lista qualquer, tipo essa da Odebrecht. O nome sujo, a vida acabada, por ter “entrado no esquema”, mesmo na ilusão de fazer a diferença.

 

Fecha parênteses.

 

O fato, senhores e senhoras, é que o sistema é bruto. Sempre foi. Já dizia Capitão Nascimento, em Tropa de Elite.

 

Admiro quem sobreviveu dentro dele com um mínimo de dignidade e conseguiu um lugar ao sol. Para tentar fazer a diferença. Só que é ilusão.

 

Não há saída desse jeito. O sistema apodreceu, despencou e seus pedaços podres estão servidos todos os dias, em fatias variadas, no mesmo velho noticiário.

 

Como é que vai ser a próxima campanha ao governo? à presidência? Sim, por que empresas não podem mais doar… empresários estão literalmente com aquela parte detrás do corpo na mão. Ninguém quer se expor em esquemas e propina e etcétera e tal.

 

Ninguém quer ser desmoralizado, preso, exposto em rede nacional. 

 

E aí que vai faltar dinheiro. Vai falir o esquema. A política nacional e seu jeitinho de comprar voto vai ter que se reinventar.

 

Estou delirando? Não sei… Talvez a velha e embaçada esperança dando sinal de vida.

 

Deve ser por que é Natal.

 

Desculpem, caros leitores, a acidez do tom e o desabafo.

 

É que todo fim de ano, a gente tenta se reinventar, começar de novo, redescobrir os motivos que nos tornam mais vivos e com mais sede de viver.

 

A política como está, pelo menos aos meus olhos, perdeu a razão de ser e o encanto. Perdeu o interesse. Simplesmente por que perdeu o foco e o objetivo, que era (ou foi um dia) o bem coletivo.

 

A vida, o fazer a diferença e mudar o mundo, está no terceiro setor. Está nas iniciativas de grupos que se unem em torno de alguma coisa comum na qual não levem vantagem. 

 

Nem nas Ong’s ando acreditando mais. Simplesmente por que boa parte delas se tornaram escada, trampolim para a conquista das instâncias tradicionais de poder.

 

2016 foi punk. Perdemos amigos. Morreram ícones da política, da literatura. Caíram velhos ídolos. Nem o casamento do Brad Pitt e da Angelina Jolie sobreviveu. Então, quem sou eu na fila do pão?

 

Alguém tentando renascer no meio dessa coisa toda. E se reinventar.

 

Esse é o desafio de todos, todo fim de ano. Abrace o seu!

 

Um feliz natal a todos.

 

Se eu não vender tudo, comprar uma Kombi, colocar as crianças dentro e sair pelo mundo a viajar, volto ano que vem!

 

Até lá!

 

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