O legado de Carlos Amastha e os desafios de Cinthia Ribeiro

Numa semana que entra para a história do Tocantins por todas as mudanças no governo num ano de cassação, tem capítulo importante para Palmas com a renúncia de Amastha...

Cinthia Ribeiro e Carlos Amastha
Descrição: Cinthia Ribeiro e Carlos Amastha Crédito: Júnior Suzuki

Uma semana de grandes emoções - na política nacional com a epopéia da luta de Lula para não ser preso - e na nossa política local com a definição das regras para o pleito extemporâneo de junho, tirou o fôlego de jornalistas correndo atrás da notícia até sexta-feira, 6. Esta que ficou marcada na história do Estado pela publicação da liminar concedida pelo ministro Gilmar Mendes e o retorno do governador Marcelo Miranda ao comando do Araguaia, enquanto seus embargos declaratórios são julgados no TSE.

 

Não fosse tudo isto e o fato da semana seria, sem  dúvida, a renúncia do prefeito de Palmas, Carlos Enrique Franco Amastha, do segundo mandato para o qual foi eleito em 2016. Um ato de coragem, uma vez que sacrifica a possibilidade de comandar a Capital por mais dois anos e nove meses, para ir em busca de uma eleição ao governo que já teve a perspectiva de ser mais fácil.

 

Há três meses, sem o cenário de cassação e eleições de regras ainda não muito claras, Carlos Amastha surfava numa onda de popularidade palpável em Palmas e em muitas cidades importantes do Estado, sob o ponto de vista eleitoral.

 

Cenário mudou, cobrança do IPTU sem redutores jogou o prefeito numa fogueira de críticas ácidas, reforçando a pecha de cobrador de impostos com apetite insaciável. E veio o escândalo das aplicações desastrosas do dinheiro do PreviPalmas. Uma mancha na reputação de bom gestor, que tem tudo sob controle. São R$ 20 milhões na Tercom e R$ 30 milhões na Icla Trust para o Cais Mauá, hoje já sob gestão da Reag. Um dinheiro que o prefeito foi às redes sociais sustentar que o servidor de Palmas não vai perder.

 

Com revezes desta natureza, qualquer político comum, dificilmente deixaria o mandato para perder prerrogativas e arriscar seu destino numa eleição incerta. Mas este não é o perfil de Amastha, a quem pode faltar juízo, mas não tem faltado a coragem de arriscar o próximo salto.

 

Numa coletiva na noite anterior à sua renúncia, Amastha enfrentou todos os temas que a imprensa tocantinense quis lhe questionar, com a tranquilidade de quem tem argumentos e convicção de que é capaz de defender a gestão que enfrentou durante cinco anos e três meses à frente da Capital.

 

Queiram ou não os adversários que colecionou ao longo deste caminho, foi uma grande gestão. Diferente de outras, no começo de Palmas, que tiveram o peso de grandes obras, ícones para a cidade, esta não foi marcada por uma obra em especial, mas por várias ações, em diversas áreas.

 

 

Carlos Amastha deixa Palmas melhor atendida na Saúde, melhor estruturada na Educação. Deixa uma malha viária em condições infinitamente melhores do que as que encontrou, fruto da opção por trabalhar com CBUQ, um pavimento de melhor qualidade.

 

Deixa uma cidade envaidecida de si mesma, por que se habituou a estar limpa, ajardinada. Nas suas principais avenidas, um cartão postal. Mas sem deixar de ter um olhar por exemplo, para o Jardim Taquari, onde problemas fundiários não permitiram que o asfalto avançasse muito nos últimos anos. Lá, ainda assim, a urbanização chegou.

 

Regularidade no pagamento da folha, pagamento da data-base dos servidores do município dentro do prazo legal, também diferenciou sua gestão. Mesmo que haja questionamento quanto a pagamento de progressões, como no caso da Educação, onde enfrentou os maiores desgastes com sindicatos.

 

O equilíbrio financeiro, uma máquina enxuta, um cronograma de obras em andamento, são legados que a nova prefeita recebeu esta semana junto com a faixa na transmissão de cargo.

 

E embora Amastha tenha muito o que dizer quando sair pelo interior pelos palanques e reuniões, a Palmas que Cinthia Ribeiro recebe, não deixa de ser também um grande desafio.

 

Conversando com ela durante duas horas esta semana, no terceiro dia de seu mandato como prefeita, pude ver na minha frente, o último dos legados de Carlos Amastha para Palmas.

 

Como estão enganados, redondamente, os que a consideram despreparada para este momento. Cinthia Ribeiro fez o dever de casa.

 

Secretários que entraram numa reunião de 13 horas para apresentar relatórios preparados às pressas nas últimas 48 horas que antecederam a saída do prefeito, tomaram um susto.

 

Encontraram uma prefeita atenta, mas longe de estar alheia aos problemas dos quais vinha se inteirando, discretamente nos últimos três meses, em cada pasta. “Eu acreditei na palavra do prefeito, e me preparei para este dia”, disse ela ao T1 Notícias.

 

 

Acompanhada por uma equipe de consultores, Cinthia fez intervenções suficientes para dar seu recado: é bem mais centralizadora que seu antecessor, cujo perfil era delegar e cobrar. Sai um empresário, entra uma dona de casa, que gosta de saber o que tem na despensa e quanto sobrou na conta bancária.

 

Sobre sua capacidade técnica - ela que administra o espólio do marido, senador João Ribeiro - a própria questiona: “tenho 41 anos, não fiquei numa posição confortável quanto à renda, mas administro minha vida, fazendas, e outros bens. Por que algumas pessoas insistem em questionar se eu sou competente para gerir a prefeitura? Será que se eu fosse um homem essa pergunta seria feita?˜.

 

No estilo Cinthia de administrar está evidente que ela deseja dar empoderamento real a mulheres, com capacidade técnica e articulação política. Prepara nomes, para aos poucos, ir dando à gestão, o seu toque. Mas é claro que a mudança de comando, assusta quem esperava que tudo ficasse como estava.

 


O recado foi dado de maneira sutil, mas firme: a gestão Cinthia Ribeiro precisa dar resultados. Disso dependem muitas coisas. A primeira, é que não haja prejuízo para a cidade. O sucesso eleitoral de Carlos Amastha, por mais que dependa dele e de circunstância que fogem ao controle de todos, depende também de que seu voo rumo ao Palácio Araguaia não tenha sacrificado a cidade que lhe confiou - a ele e a ela - mais um mandato.

 

De prático, já se nota que ela muda a organização do gabinete e das secretarias mais próximas. Já mudou o fluxo de trabalho. Quer mudar a relação com os poderes. Até o final da semana deve separar a área política da secretaria de Governo da área de Relações Institucionais. A primeira vai dialogar com a Câmara, tarefa difícil que deve ser confiada a alguém com traquejo político, já que ali a relação nunca foi fácil… 

 

A segunda vai buscar restabelecer as pontes com órgãos como o Tribunal de Contas, de onde vieram nos maiores bombardeios à gestão Amastha.

 

Se auto definindo como “tradicionalista e conservadora”, a prefeita que despacha no 8º Andar do prédio da JK, tem o desafio de manter o ritmo do antecessor, mas sem dúvida terá um estilo bem diferente.

 

Não se espera dela o enfrentamento que ele protagonizou com vários setores, gerando desafetos e processos, mas avançando onde nunca ninguém havia se atrevido, como ao forçar a ocupação de vazios urbanos.

 

A nova prefeita tem pela frente nove meses atípicos. Um calendário de inaugurações de obras e outro de eventos para manter que faz de Palmas o destino turístico que ela já é. Uma eleição no meio disso tudo, e a prova dos nove para dizer até o final do ano, a que veio.

 

Disso ninguém duvide. Cinthia Ribeiro assume um legado que tem também conquistas sociais, espaço para políticas públicas de inclusão nas quais o PSB de Amastha e os partidos de esquerda que o acompanham, como o PC do B, tem papel importante. Isso não pode ser perdido.

 

Temina a Era Amastha em Palmas.

 

O que virá pela frente? Depende muito de Cinthia Ribeiro.

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