O triste adeus de Maguito, o menino de Jataí, que fez história na política de Goiás

Maguito, de trajetória tão improvável, morre em consequência das complicações do Corona Vírus, deixando história e memórias na política de Goiás

Maguito e Iris
Descrição: Maguito e Iris Crédito: Reprodução/Mais Goias

Goiânia amanhece de luto nesta quarta-feira, 13 de janeiro com a notícia da morte em São Paulo, aos 71 anos, do seu prefeito eleito em novembro passado, Maguito Vilela. 

 

Toda morte é triste, mas a partida de Maguito depois de mais de 60 dias após ser internado, no meio de uma campanha a prefeito da Capital de Goiás, estado irmão do Tocantins, é cercada desse tom trágico, pelas circunstâncias em que ocorre. 

 

Um prefeito que tomou posse virtualmente, de dentro da UTI de um hospital, após interromper a caminhada em busca dos votos numa eleição em meio a uma pandemia que já ceifou mais de 204 mil  vidas em todo o Brasil, 6 mil 988 até ontem em Goiás. Entre elas, antes de Maguito, a Covid levou suas duas irmãs em menos de seis meses.

 

Mas não é da morte que quero falar nessa manhã nublada de quarta-feira em Palmas.

 

É da vida de Maguito. Um homem de história improvável. Alguém que traiu seu destino de menino pobre, que engraxava sapatos nas ruas de Jataí na adolescência para construir uma história consistente na política goiana, através de várias eleições. De vereador a deputado estadual, federal, vice-governador, governador, Senador, prefeito de Aparecida de Goiânia e finalmente eleito para prefeito de Goiânia, que nunca chegou a governar.

 

Maguito, do velho MDB. Muitos no Tocantins guardam boas memórias dele. Do velho Totó Cavalcante, ao jovem Gilvan Noleto, todos tem uma história para contar.

 

Ainda na Folha do Sudoeste, idos da década de 80, fiz minha primeira entrevista com ele. Era amigo do meu pai, amigo das famílias da colônia árabe de Jataí, de onde sempre saiu bem votado. Alí ele me contou da infância difícil, de como ter sido ajudado por um médico antigo e conhecido em Jataí ajudou seus estudos e sua trajetória.

 

O Maguito que emerge das minhas memórias era um político aguerrido no começo da abertura do regime militar. Bom de discurso. Que vibrou com a volta de Iris Rezende à Goiás e aproveitou aquele momento para se firmar no cenário político goiano.

 

Me lembro de ainda bem jovem, na cobertura da Folha, comentar sua improvável eleição a deputado federal, numa dobradinha com o então ex-prefeito Mauro Bento. Este, espertamente saiu a deputado estadual (que era bem mais confortável) e lançou Maguito numa dobradinha à federal. À época, Maguito já era deputado estadual e tinha reeleição tranquila. Seu primeiro mandato, havia sido de vereador.

 

Os dois se elegeram, mas ficaram com a relação pessoal arranhada. Maguito se projetou ainda mais e saiu “das asas” de Mauro Bento após grande apoio conquistado numa busca frenética em Caiapônia, Rio Verde, Caçu, e todo Sudoeste Goiano. Narramos o tom daquela vitória dramática após a apuração dos votos no Jockey Clube de Jataí: eu, José Renato, e o Gaúcho, da Difusora de Jataí.

 

Maguito envolvido com a luta dos estudantes do Centro Acadêmico de Pedagogia do Campus Avançado de Jataí. Depois governador de Goiás. E então prefeito de Aparecida de Goiânia. Só não foi em sua trajetória, prefeito de Jataí.

 

No Diário da Manhã, em Goiânia, segui falando com ele, cobrindo as matérias da sua trajetória enquanto trabalhei em Goiás.

 

O vi pela última vez em Palmas, numa daquelas visitas de autoridades políticas ao Palácio Araguaia, governo Marcelo Miranda, já no PMDB. Conversa rápida, de conterrâneo.

 

A gravidade do seu quadro, apesar dos boletins relatando avanços, momentos de consciência, movimento com os olhos, era evidente. Ficou mais clara ainda quando, desentubado, teve hemorragia pulmonar. Dificilmente Maguito se recuperaria. Era o que mostrava o quadro clínico e o histórico familiar, com a morte das irmãs que não resistiram à agressividade do Sars Cov.

 

Nesta quarta-feira, 13, Jataí recebe de volta em seus braços, num último vôo de chegada, o menino alto e magro que viu partir há pelo menos 35 anos para fazer história na política goiana e brasileira.

 

 Maguito não terá certamente o velório e enterro que teria em tempos normais, mas repousará entre os seus no velho Cemitério São Miguel, cercado dos morros e ruas estreitas que o viram crescer.

 

Que descanse em Paz! 

 

 

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