Para afastar Marcelo, falta um queijo e uma rapadura...

Numa fase em que os principais grupos políticos do Tocantins tiveram seus dirigentes depondo na Polícia Federal, é pressa sem sustentação política, a idéia de que Miranda será afastado...

Governador Marcelo Miranda
Descrição: Governador Marcelo Miranda Crédito: T1 Notícias

Há um ditado mineiro, bastante utilizado pelo povo do sertão, quando quer dizer que ainda falta muito para se chegar a determinado objetivo. Pensando nos últimos acontecimentos, ele aplica-se bem nas rodas de conversa em que há uma semana, começou a torcida dos adversários do grupo político que ocupa o Palácio Araguaia para ver afastado o governador Marcelo Miranda: "falta um queijo e uma rapadura"...

 

A conversa sobre impeachment começou lá atrás, na onda do afastamento da presidente Dilma com base na acusação de pedaladas fiscais (prática de nove, entre 10 governadores).  De forma meio tímida, foi parar na tribuna da Assembléia Legislativa, como sugestão do deputado Eduardo Siqueira, que ao lado da deputada Luana Ribeiro, faz a oposição mais sistemática ao governo atual.

 

Daí, voltou a aparecer como sugestão dos sindicalistas que representam o Quadro Geral, como forma de pressionar o governo a pagar a data base. 

 

Nada disso gerou força suficiente para fazer com que o assunto fosse sequer cogitado seriamente na Assembléia Legislativa.

 

É fácil entender os motivos. 

 

O Tocantins já teve duas interrupções de mandato. A primeira, no afastamento do próprio Marcelo Miranda, após julgamento desfavorável do Rced 698, em 2009. A sensação de que não era para tanta punição a falha cometida, lhe rendeu a aura de injustiçado e duas vitórias nas urnas: a primeira ao Senado, que não assumiu, por estar inelegível ainda. A segunda, em 2014, mandato que vai vivendo, cheio de dificuldades de gestão.

 

O ex-governador Siqueira Campos, por sua vez, afastou-se numa estratégia que visava dar a Eduardo Siqueira Campos a chance de ser candidato a governador. Nem a candidatura vingou, nem o Tocantins tem muito o que se orgulhar do mandato tampão de Sandoval Cardoso. 

 

Pois bem.

 

São nesses tempos difíceis, em que a Polícia Federal amanhece na porta de muitos, e percorre o alfabeto de A a Z sem muita distinção de partido político, que o governador Marcelo Miranda enfrenta a que talvez seja a maior crise moral de todos os seus governos:  demonstrar que não tem culpa, que não cometeu os crimes apontados pela Operação Reis do Gado. As provas contra ele, cabe à polícia juntar ao longo do inquérito.

 

Pausa para meditação.

 

Provar. Juntar provas. Defender-se. Etapas de processo judicial que tende a se arrastar para cumprir todo o rito previsto juridicamente. Traduzindo: vai tempo!

 

Retomemos.

 

Outro processo, esse já em fase de julgamento, pode afetar Miranda. É o que aguarda análise no TSE e diz respeito à apreensão dos R$ 500 mil naquele avião em Piracanjuba, em plena campanha.

 

Também um processo que a esta altura, não há sinais de que seja julgado agora, no apagar das luzes de um 2016 que muita gente prefere esquecer, por não haver nele motivos para comemorar.

 

O queijo…

 

Então, por mais que a torcida dos adversários seja grande, é forçoso reconhecer que o governador tem tempo para fazer duas coisas: organizar melhor sua gestão, para sair da crise estabelecida com  o funcionalismo público em razão do descumprimento de compromissos legais (progressões, data base, alinhamento da Polícia Civil) e fazer o tão sonhado equilíbrio de caixa que pode permitir que o governo mostre reação à crise, mostre trabalho, organize e divulgue melhor suas ações.

 

Ou seja, ainda há esperança para o governo Marcelo Miranda.

 

A rapadura…

 

Por outro lado, impeachment é ferramenta política. Para que aconteça, há que existir uma crise política/institucional séria a mover o ânimo dos deputados. 

 

Pela reação que não se viu até agora na Assembléia Legislativa, não há pressa dos deputados estaduais em julgar e condenar Miranda fora dos tribunais. Talvez por que ao longo dos últimos anos seus interesses em acomodar base eleitoral, e ver cumpridos os compromissos com emendas parlamentares impositivas estejam -  na medida do possível -  atendidos pelo comando do Palácio Araguaia.

 

Que há uma crise, não resta dúvida, mas ainda assim, administrável.

 

Ter um governo mediano, com todas suas reconhecidas dificuldades, pode ser melhor do que ter pela frente uma incógnita (Vide Michel Temer, quanta gente arrependida...). Esta parece ser a compreensão de quem decide impeachment.

 

Dizer que os deputados estão alvoraçados para disputar uma eleição indireta ano que vem, é um erro. Primeiro, por que não dinheiro para isso. Segundo, por que as ações da PF incomodam os três grupos políticos que estão na praça. E não sobrou muita gente com capacidade e ânimo para apontar o dedo e cobrar a retirada de Miranda do Araguaia.

 

É por estas e por outras que cabe uma coleção de provérbios e ditos populares na pressa que meia dúzia já manifesta em depor o governador: o “apressado come cru” ou, “quem vai com muita sede quebra o pote”…

 

O desafio do governo agora, é outro: pagar a folha, pagar o 13o salário, preparar novos cortes (já que os atuais ainda não são suficientes) e se organizar melhor para um 2017 intenso.

 

Até lá, não acontece absolutamente mais nada.

 

E Marcelo segue governador. Eleito democraticamente pelo voto.

 

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