Sérgio, o Moro, um personagem a serviço da sua própria história

Ex- ministro Sérgio Moro deixa o governo Bolsonaro com acusações pesadas ao presidente e racha a direita bolsonarista. Mas quem é ele? o personagem abraçado à biografia que não trai o currículo...

Moro, personagem de si mesmo
Descrição: Moro, personagem de si mesmo Crédito: Pragmatismo Político

Quando qualquer empresário vai contratar um colaborador, pesa na decisão, seu currículo. Por onde passou, as experiências que teve, as relações que fez (por isso tem lá um quadro de referências no final, nome e números para os quais o empregador pode ligar e conferir informações inclusive sobre a índole do contratado).

 

Sérgio Fernando Moro, 47, habilitou-se ao cargo de Ministro da Justiça com um currículo invejável. Senão vejamos...

 

Filho caçula de um casal de professores, Moro formou-se em direito em 1995. Ainda advogado, participou de um curso de instrução nos Estados Unidos, sobre lavagem de dinheiro, na Harvard Law School em Cambridge, MA.

 

Tornou-se juiz federal em 2006, ocupando vaga no TRF 4ª região, com sede em Porto Alegre.

 

Depois de atuar como auxiliar da ministra Rosa Weber, do STF, em casos como o Mensalão tornou-se estrela nacional na Operação Lava Jato. A operação, que nasce oficialmente em 2014, reuniu investigações que começaram em 2009 para apurar grandes movimentações de dinheiro em Brasília.

 

Parêntese...

 

Quando um escritório estruturado vai contratar um novo advogado, ou quando um desembargador vai escolher um auxiliar, há uma coisa muito importante: o como este profissional age, ou agiu antes, no desempenho da sua função nos casos que atuou.

 

Guardem essa observação. Vai ser útil lá na frente. 

 

E fecha o parêntese.

 

No âmbito da Lava Jato, Sérgio Moro adotou procedimentos peculiares, característicos da sua forma de agir.

 

Orientou as ações do Ministério Público como largamente publicado pelo The Intercept Brasil.

 

Selecionou áudios para vazar à imprensa, entre eles o famoso trecho de uma conversa telefônica que sugeria que a presidente Dilma Rouseff oferecia ao ex-presidente Lula, foro privilegiado, com a nomeação dele para  Ministro Chefe da Casa Civil.

 

Ninguém duvida que a condução dada pelo então Juiz Sérgio Moro acelerou o processo de cassação da presidente Dilma Roussef e tudo que veio depois.

 

Em plena campanha presidencial, e faltando apenas seis dias para as eleições, Moro decidiu interferir no processo eleitoral. E dar uma mãozinha ao então candidato Bolsonaro.

 

 

Segundo ele, “sem ver prejuízo” ao processo, liberou para publicação, trechos da delação de Palocci, que nada tinha de nova, mas que foi combustível contra Fernando Haddad na corrida presencial, até então apertada. 

 

Antes disto, trechos de delação constante nos arquivos da Lava Jato, municiou o Ministério Público de São Paulo a mover ação contra o então candidato, por suposta prática de corrupção passiva e lavagem de dinheiro.

 

A ação foi trancada após as eleições por estar “eivada”de erros, segundo entendeu o juiz.

 

Com um currículo destes, Sérgio Moro foi alçado ao cargo de Ministro da Justiça pelo presidente Jair Bolsonaro. Desde então não é surpresa que Moro só deixaria a carreira Jurídica antes de poder aposentar-se, de olho na indicação que caberia ao Presidente da República fazer ao Supremo Tribunal Federal.

 

Indicação abalada pelos vazamentos de conversas publicados pelo The Intercept, mas que novamente foi alvo de tentativa de barganha na crise que se estabeleceu com a decisão de Jair Bolsonaro de demitir o Diretor da Polícia Federal, insatisfeito com a impossibilidade – segundo Moro -  de interferir nas investigações.

 

Investigações estas que se referem a prática de Fake News, a envolvimento com a mílicia e ao crime predileto investigado pela Federal: lavagem de dinheiro. A seguir assim e as investigações podem incriminar 01, 02 e 03.

 

E qual a surpresa que diante de tudo isto, Sérgio Moro aja como sempre agiu – recorro agora à citação do currículo, lá em cima, entre parênteses – aproveitando o timing, o momento político e as “provas” que produziu com conversas de Whatsapp?

 

 

A decepção manifesta por Bolsonaro em pronunciamento ontem é real. Se é legítima ou não, já são outros 500. Afinal, pode-se dizer que Bolsonaro ignorou o currículo de Moro, ou o contratou por causa dele? Se a opção dois é a verdadeira, cumpre-se a máxima: a semadura é livre, a colheita, obrigatória...

 

A mim, Sérgio Moro não decepciona. Só confirma a biografia e o “modus operandi” que o consagrou.

 

As consequências políticas? Ah, as consequências. Coloca água na fervura que derrete a imagem já abalada do presidente. Se teremos ou não o afastamento de Jair em plena pandemia da Covid-19? Duvido.

 

Só não há dúvida de uma coisa. Este episódio histórico marca o princípio de uma queda que se não vier nos próximos meses, virá sem dúvida nas próximas eleições. Com Mandetta e Moro, um demitido sumariamente, e outro se demitindo em meio aos flashes que tanto gosta, a direita brasileira habilitou dois nomes com muito mais envergadura para disputar a presidência do Brasil.

 

 Da minha parte, se é para escolher personagem, prefiro outro Sérgio, tão fabricado quanto este. Mas anti-facista, inteligente, articulado e que tem sempre um plano B. Sérgio Marquina, o Professor.

 

Este com toda trama disponível em três series de La Casa de Papel. Disponível na Netflix. Aproveitem!

 

 

 

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