Kátia alerta governo Bolsonaro sobre perda de negócios com a China: "80% da soja"

Em discurso na aula magna para os alunos do Instituto Rio Branco nesta última segunda-feira, 11, o chanceler Ernesto Araújo afirmou que o Brasil não vai vender sua alma para exportar minério de ferro

 

A senadora Kátia Abreu (PDT-TO) enviou uma carta nesta quarta-feira, 20, ao ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, na qual alerta sobre o impacto negativo que uma eventual ruptura nas negociações com a China traria para o agronegócio brasileiro. Para Kátia, ao afirmar “nós queremos vender soja e minério de ferro, mas não vamos vender nossa alma para a China”, o chanceler espalhou a semente da insegurança na economia.

 

Ex-ministra da Agricultura, Kátia lembrou que mais de 80% da soja brasileira exportada tem a China como destino. “Temos de lutar para ter proximidade com outros países, como estamos fazendo com relação aos Estados Unidos, mas sem pôr em risco o que conquistamos na Ásia. Não é justo que o senhor venha causar desassossego e provocar turbulências com declarações que podem tirar uma grande fatia do nosso mercado”, afirmou.

 

Na carta, a senadora do Tocantins argumentou que, nos últimos anos, houve grande esforço por parte dos produtores rurais e dos governos brasileiros no sentido de ampliar as exportações para China. Destacou que ela própria, como ministra e como presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), foi ao país ao menos oito vezes para tratar de acordos comerciais.

 

Kátia Abreu pede que o ministro trabalhe para manter e ampliar as relações comerciais com o país asiático. “Li que o senhor é um homem temente a Deus. Também tenho fé e peço-lhe que reze, em português e em mandarim, para manter e ampliar nossas relações comerciais com a China. É a coisa certa a fazer”, concluiu.

 

Discurso do Chanceler

 

Em discurso na aula magna para os alunos do Instituto Rio Branco nesta última segunda-feira, 11, o chanceler Ernesto Araújo afirmou que o Brasil não vai vender sua alma para exportar minério de ferro e soja.

 

A China é a maior compradora de soja e minério de ferro do Brasil. “Nós queremos vender soja e minério de ferro, mas não vamos vender nossa alma. Isso é um princípio muito claro. Querem reduzir nossa política externa simplesmente a uma questão comercial, isso não vai acontecer.” disse Ernesto.

 

O ministro das Relações Exteriores disse aos recém-ingressos no Itamaraty que o Brasil, nos últimos anos, fez uma opção equivocada ao querer se integrar à América Latina, Europa e Brics em vez de aprofundar as relações com os Estados Unidos. Segundo Araújo, os parceiros que não foram capazes de ajudar no desenvolvimento do país.

 

“Essa aposta equivocada talvez explique que o Brasil foi o país que mais cresceu no mundo quando seu principal parceiro de desenvolvimento eram os EUA, e depois estagnou, quando desprezou essa parceria com os EUA e passou a buscar Europa, integração latino-americana, e, mais recentemente, o mundo pós -americano dos Brics.”

 

Veja a íntegra da carta enviada:

 

"Sr. Ernesto Araújo, Min. Relações Exteriores

 

Como Senadora da República e na condição de defensora incondicional da Agropecuária brasileira, venho manifestar imensas preocupações diante da incerteza que paira sobre o futuro dos negócios do Brasil com a China.

 

Ao afirmar que “nós queremos vender soja e minério de ferro, mas não vamos vender nossa alma para a China — e questionar se a relação com o país é benéfica —, o Senhor espalhou a semente da insegurança na economia brasileira.

Não é justo que o Senhor venha causar desassossego e provocar turbulências com declarações que podem nos tirar uma grande fatia do nosso mercado.

 

Mais de 80% da soja brasileira é exportada para os chineses. Temos de lutar para ter proximidade com outros países, como estamos fazendo em relação aos Estados Unidos, mas sem pôr em risco o que conquistamos na Ásia.

 

 

Nossas exportações agrícolas ultrapassam os US$ 102 bilhões ao ano, com superávits comerciais anuais superiores a US$ 88 bilhões. Estima-se que a safra agrícola deve, neste ano, alcançar 230,7 milhões de toneladas, a segunda maior da história desde 1975.

 

O maior responsável por este êxito é o agricultor. Graças a ele, nossa Agropecuária é mundialmente reconhecida pela excelência. Foi uma conquista de anos e anos de trabalho.

 

Diferentemente dos nossos competidores, temos uma infraestrutura de transporte abaixo da crítica. Nossos portos estão entre os menos eficientes do mundo, a carga tributária dos insumos é altíssima e os juros são exorbitantes.

 

Conheço o setor agropecuário. Fui presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil e fui ministra da Agricultura. Estive na China e em outros países para ampliar nossas vendas.

 

Tenho quase três décadas de vida pública voltada para a defesa da nossa agricultura - que representa a melhor chance do nosso Brasil avançar em direção a uma vida melhor para a maioria da população que se confronta diariamente com dificuldades quase intransponíveis.

 

Esse setor gera mais de 30 milhões de empregos diretos no país e responde por mais de R$ 1,4 trilhão de ganhos à nossa economia.

 

Sr. Ministro Ernesto Araújo, li que o senhor é um homem temente a Deus. Também tenho fé e peço-lhe que reze, em português e em mandarim, para manter e ampliar nossas relações comerciais com a China. É a coisa certa a fazer.

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