Márlon Reis acredita que estará no 2º turno, critica a Saúde do TO e comenta alianças

O candidato afirmou, em entrevista ao T1: “não estou preocupado com o ex-prefeito, estou preocupado em vencer as eleições no Tocantins e meu adversário se chama Mauro Carlesse”

Márlon Reis é candidato ao governo do Tocantins pela Rede
Descrição: Márlon Reis é candidato ao governo do Tocantins pela Rede Crédito: T1 Notícias

O ex-juiz e um dos idealizadores da lei da Ficha Limpa, o candidato a governador Márlon Reis (Rede), deixou a magistratura para seguir a advocacia e também, recentemente, uma trajetória na política. Nascido em Pedro Afonso, Márlon passou boa parte da vida no estado do Maranhão e no Distrito Federal.

 

Sua primeira disputa como candidato ocorreu na eleição suplementar do Tocantins, em julho deste ano, quando Márlon conseguiu uma votação expressiva, levando em consideração seu pouco tempo de TV, recursos e trajetória política no Estado. O candidato conquistou 56 mil votos.

 

Em entrevista especial ao T1, o candidato disse que o caos da saúde é uma questão de autonomia administrativa e financeira da pasta, o que não vem ocorrendo. Marlón fala ainda sobre as alianças firmadas com agremiações tradicionais no Tocantins e dos desacordos atuais com o candidato do PSB, Carlos Amastha. O candidato ainda afirma que acredita que a disputa ao governo do Estado será levada ao segundo turno e que ele será um dos nomes no páreo.

 

Confira a entrevista: 

 

T1 Notícias - O Estado enfrenta um quadro preocupante em relação à saúde. A fila para cirurgias eletivas é grande. Qual será sua primeira medida para a saúde, caso seja eleito?

 

Márlon Reis - No meu primeiro dia de governo irei determinar a aplicação da constituição federal que assegura autonomia administrativa e financeira para a Saúde. Hoje, o dinheiro da Saúde está atendendo a objetivos políticos eleitorais e não a finalidades especificamente mencionadas na constituição, que por sua vez determina que esses recursos tenham que ser geridos por um conselho próprio e com fundo próprio. Hoje é uma confusão entre o dinheiro do Estado e o dinheiro próprio da saúde. Então, a minha primeira medida, no meu primeiro dia de governo, será determinar o cumprimento da constituição para que o dinheiro da saúde seja gerido apenas dentro do próprio âmbito da saúde. Sem gerência política eleitoral, que é a marca histórica do Tocantins e é o que levou ao colapso da saúde do Estado. 

 

T1 Notícias - Então você acha que o Estado tem orçamento para resolver a situação?

 

Márlon Reis - O Estado tem muito dinheiro para isso. Inclusive o Estado gasta mais que a base constitucional, bem mais que o piso constitucional, o que é determinado como teto de gastos na constituição para a Saúde. O que acontece é que a gestão é comprometida com a intromissão da política e daí decorre a má gestão. E a corrupção. São muitas as denuncias de represamento de verbas na área da saúde e que o pagamento é condicionado à retenção de um pedágio. Entre aspas - “que é a devolução de partes do dinheiro para os agentes políticos para financiar suas campanhas”. Então este que é o problema da saúde do Tocantins. Não é um problema de dinheiro, é um problema de corrupção, misturado com má gestão e que por sua vez, é tornando impossível pela falta de cumprimento da constituição que assegura autonomia para os recursos da saúde. Então a gestão da saúde tem que ser autônoma. Protegida dos interesses partidários e eleitorais. Essa é a grande doença do sistema de saúde do Tocantins.

 

T1 Notícias - Em relação a gastos, o Estado há dois semestres afirma que não arrecadou o que era esperado e teve que cortar algumas ações planejadas. O que fazer para recuperar a arrecadação? 

 

Márlon Reis - O Tocantins vem tendo um aumento substancial da sua receita ao longo dos anos, alguma queda de receita não atrapalha a conclusão que nós temos, e isso é fácil comprovar em números, de que nós temos historicamente visto a nossa receita de nossa corrente líquida aumentar ano após ano. O grande problema não está com a receita, está com a despesa e o problema da despesa é basicamente a prevalência de interesses clientelistas. As eleições são um fator muito impactante nas despesas, tudo se faz pensando no momento em que chega o processo eleitoral. Então, na verdade não temos um problema com a receita do Estado. Nós temos um problema é com a despesa. Só para você ter uma ideia, a receita corrente liquida do Tocantins em 2017 foi entorno de R$ 7 bilhões e meio. A receita do vizinho Estado do Maranhão foi entorno de R$ 11 bilhões. Só que eles têm uma população de quase 7 milhões de pessoas e nós temos uma população de 1,5 milhão de pessoas. Isso significa que a nossa receita comparada com a quantidade de habitantes, a nossa receita per capita, ela é mais que o dobro do Maranhão, que ainda enfrenta situações de pobreza crônica e níveis mais alarmantes que os nossos, consegue ter as contas em dia e pagar os mais altos salários para os professores do Brasil. Então nós não temos problema com a receita, nós temos problemas exclusivamente no campo das despesas. Fruto de má gestão e corrupção.

 

T1 Notícias - Você considera que esse problema veio dos governos anteriores e se prolongou neste?

 

Márlon Reis - O Carlesse não mudou nada. Não há nenhum ato do governador para a solução dos problemas das contas. Pelo contrário, existem recomendações sequíssimas do Tribunal de Contas que vinham da época do Governo Marcelo e que continuam não sendo cumpridas. Não há um único gesto concreto, comprovado, de busca da solução desses desequilíbrios entre receita e despesa do governo Carlesse.

 

T1 Notícias - O que você faria?

 

Márlon Reis - Bom, a primeira coisa que realmente precisa ser feita é o cumprimento da lei de responsabilidade fiscal. Nós estamos hoje, o governo sem comprovação afirma que reduziu entre aspas os gastos com pessoal para 54%, o que é absurdo, porque a lei de responsabilidade fiscal estabelece como teto até 49%. Então nós estamos muito acima do teto, mas o governo alega sem comprovar essa redução de 58% para 54%. O que é preciso fazer, todo mundo sabe o que é preciso fazer, é preciso exonerar os fantasmas, que são muitos. Ninguém tem coragem de falar sobre isso no processo eleitoral. Eu sempre disse que os contratos que trabalham não têm o que temer, mas que nós precisamos recadastrar para excluir da folha de pagamento os fantasmas, aqueles que moram em outros estados, até em outros países, e estão recebendo. É preciso passar um pente fino na folha e nenhum outro candidato tem coragem de falar isso, porque eles estão fazendo campanhas buscando e prometendo que vão aprofundar o problema. Prometendo mais empregos e mais contratos. Fazendo contratos de gaveta que serão depois publicados para nomeações que estão sendo feitas já para obter votos nesta eleição. As medidas todas que precisam ser adotadas já são conhecidas pelos tocantinenses, mas também sabemos quais são os problemas. A questão é que ninguém promete adotar essas medidas.

 

T1 Notícias - Mas sua coligação nesta eleição trouxe grupos que inclusive praticam esse tipo de política há anos. O senhor pode garantir que não haverá distribuição de cargos comissionados a estes grupos?

 

Márlon Reis - Eu garanto. Em primeiro lugar nossa coligação foi montada toda sem fatiamento do governo. Ninguém me propôs nada e eu não aceitaria. Então eu serei o primeiro governador eleito livre para governar o Tocantins, porque a minha chapa é grande, é plural, cheia de diversidade, mas ela tem um ponto em comum: todos estão preocupados com a situação em que o Tocantins chegou e todos estão dispostos abrir mão de suas diferenças para que as medidas adequadas possam ser adotadas. Veja, nós temos na chapa tanto eleitores do PT, como eleitores de Jair Bolsonaro. Por outro lado, temos ambientalistas e pessoas do agronegócio, estão todo mundo junto. Porque entendemos que o problema grave do Tocantins exige abertura temporariamente das divergências para salvar o Estado. A situação é completamente calamitosa.

 

T1 Notícias – Os grupos vão interferir em seu plano de governo?

 

Márlon Reis - Sem nenhuma interferência. A não ser para colaborar. Meu plano de governo e minha filosofia política apresentada ao Tocantins é a mesma da eleição suplementar. Ela foi apresentada em um programa extenso já presente na eleição suplementar. Eu não mudei uma palavra. Apenas atualizei para esta campanha e pedi para os partidos, porque todos eles têm expertise em diversas áreas. Por exemplo, no PTB do José Geraldo, eu recebi contribuição de várias pessoas. Uma delas foi do ex-secretário de agricultura que me trouxe uma visão extremamente aprofundada sobre aspectos relacionados ao desenvolvimento no campo. O PV me brindou com muitas informações sobre temas ambientais, que eu entendi que eram complementares ao meu programa. Então, nós realmente construímos um acordo programático. Sem que houvesse o recuo de uma única palavra das minhas ideias. Eu aceitei sugestões e colaborações e fui muito bem sucedido nisso porque construímos um programa completo para o estado do Tocantins. Não é um panfleto de cinco páginas. É um programa de governo que apresenta no seu cerne a mudança do perfil do estado em relação a todos os cidadãos.

 

T1 Notícias - Continuando no assunto sobre coligações, o jornalista William Bonner, quando entrevistou a presidenciável do seu partido, Marina Silva, chegou a comentar sobre sua candidatura aqui no Estado. Afirmou que ela permitia que os candidatos da Rede unam-se aos partidos do centrão. Grupos que ela vem criticando desde o surgimento da sigla. Você está colhendo vantagens nessas alianças?

 

Márlon Reis - Mas é claro. O Bonner que disse que a Rede não se aliaria ao PT, não foi a Rede. A Rede disse que não apoiaria determinados nomes envolvidos em escândalos e corrupção, mas a Marina sempre disse que existem pessoas boas em todos os partidos. Ela nunca disse outra coisa. Então foi o Bonner que disse que a rede não se aliaria com o PT. A rede sempre disse que há boas pessoas em todos os partidos, e que elas devem ser buscadas. O Tocantins é um dos maiores exemplos disso. Porque nunca encontrei uma pessoa para desabonar a conduta do Paulo Mourão (PT), nunca encontrei uma pessoa para dizer que ele não era um prefeito rigoroso em seriedade com as constas públicas quando gestor. Ele não responde inquérito de nada. Pelo contrário, ele é visto como conhecedor profundo da política do Estrado. Dos problemas de economia e de gestão do Estado. Deixar de me aliar com uma pessoa dessa, que tem profundo conhecimento do Tocantins, por um simples preconceito fundamentado em radicalismo ideológico seria um desserviço para o Estado. Então nós ganhamos muito com as coligações que fizemos.

 

T1 Notícias – E o tempo de TV, uma das vantagens da aliança, tem surtido efeitos positivos a mudança dos oito segundos para pouco mais de 2 minutos?

 

Márlon Reis - A diferença é gigantesca. Não só pra mim, mas para todos ligados à campanha. Após os primeiros programas, recebi diversas ligações de todo o Estado. Gostaria de pontuar algo sobre as alianças. O José Geraldo é uma das provas de que as alianças podem contribuir com fortalecimento de um grupo. Geraldo é um dos políticos mais qualificados e idôneos do Estado com grande folha de serviços prestados. Inclusive deixou a campanha de deputado federal para não se amoldar em determinadas coisas que ele percebeu que estavam erradas e agora volta a participar porque viu na minha campanha as mudanças necessárias. A vinda do PTB serviu para agregar mais tempo de TV, mas muito mais que isso, veio trazer qualidade e confiabilidade para a nossa chapa.       

 

T1 Notícias - Sobre o PTB, gerou desconforto com Amastha o pedido dele de impugnação de sua chapa, o acusando de fraudar ata de convenção?

 

Márlon Reis - O Amastha traiu os companheiros leais. O PCdoB e o PTB, que estavam lá. Chamou grupos de última hora por razões oportunistas e encheu de pessoas com mandato a chapa de deputado e queria que as pessoas para quem ele havia prometido, que haviam condições de ajudar, aceitassem ser meras escadas de alguns dos atuais deputados da Assembleia Legislativa. Foi uma traição com seus companheiros. Eu identifiquei a traição, procurei os dois partidos e nós acertamos a coligação, que foi anunciada na segunda-feira. Porque os últimos detalhes foram fechados na noite anterior, como a lei permite. Gerou um desconforto para ele, que chegou a renunciar em mais um dos seus chiliques. O que acontece é que Amastha parece que não se contenta em errar pouco. Depois de ter provocado essa situação, ele decidiu aprofundar a situação perseguindo as pessoas ligadas a esses dois partidos e tentando também tumultuar a minha candidatura, só que sem a mínima condição de fazer isso. Já que a ação que ele moveu é absolutamente sem nenhum sentido jurídico. Sem a menor base jurídica.

 

T1 Notícias - As pesquisas apontam que o pleito pode vir a ser definido em primeiro turno. Essas animosidades não acabam por fortalecer outros adversários políticos?

 

Márlon Reis - Não há embate de minha parte. O Amastha é quem está me atacando. Vê se tem alguma iniciativa minha contra o Amastha? Segundo lugar, todo mundo sabe que é não verdadeiro que Carlesse tem chance de ganhar em primeiro turno. No meio político não há uma única pessoa que considere isso minimamente provável. No mínimo uma falha metodológica de uma só pesquisa, aliás. Por outro lado, eu acho bom que o governo pense que já ganhou. Fico até feliz. Da nossa parte estamos fazendo o trabalho, conquistando votos. Eu não perco meu tempo me batendo de frente com Carlos Amastha. Agora, o que ele fizer contra mim, irei responder. Mas vocês podem olhar que não há nenhuma iniciativa minha contra ele.

 

"Não estou preocupado com o ex-prefeito, estou preocupado em vencer as eleições no Tocantins e meu adversário se chama Mauro Carlesse."

 

T1 Notícias – Num eventual segundo turno, qual o plano de governo que mais se aproxima do seu e seria mais favorável em ter o seu apoio ou de lhe apoiar?

 

Márlon Reis - Vejo dificuldade nos dois grupos e minha tendência, o meu eleitorado, ele não é eleitorado de curral, que aguarde indicação minha para onde devem ir os votos. Então isso é muito complexo. Com o tipo de política que eu faço, que requer a conquista legítima e dialogada com praticamente cada eleitor. Então essa pergunta não cabe muito facilmente para mim porque exige uma resposta altamente complexa que só pode ser dada no caso de uma situação como essa se concretizar, mas não acredito nessa possibilidade. Eu estarei no segundo turno.

 

T1 Notícias - Como está ocorrendo a arrecadação para sua campanha. Recebeu algum repasse da Direção Nacional?

 

Márlon Reis - A Rede é um partido pequeno e que tem poucos recursos. Então não tem condições de colaborar decisivamente para minha candidatura e eu vou continuar fazendo o que fiz na suplementar, solicitar doações individuais.
 

"Eu não me sinto parlamentar, me sinto um chefe do Executivo."


T1 Notícias - Porque então se candidatar ao governo, que demanda mais verbas de campanha, em vez de concorrer a um cargo na Assembleia Legislativa, por exemplo?

 

Márlon Reis - Eu não sou carreirista. Geralmente é o pensamento de alguém que quer se transformar em profissional na política. Minha mente não funciona desse jeito. Eu sou movido por desafios e não me intimido pelo tamanho do desafio. Já ultrapassei vários desafios que quando assumi, no começo, todos diziam que era impossível chegar ao resultado. Estou acostumado a isso. E por outro lado sou uma pessoa motivada pela minha vocação, eu não me sinto parlamentar, me sinto um chefe do Executivo. Uma liderança vocacionada para construir projetos e conclamar pessoas para ir para determinada direção e esse não é o papel do parlamentar. Não busco uma projeção política, essa ideia não me motiva.

Comentários (0)