Trilhos superfaturados no Tocantins: onde está o dinheiro?

Vem na Folha de S. Paulo deste domingo ampla matéria sobre o superfaturamento de trechos da Ferrovia Norte-Sul ao longo dos últimos anos. Fundamentada em levantamentos da Polícia Federal, a matéria aponta o saldo do desvio nos trilhos do Tocantins: R...

Este seria o valor encontrado a maior pelos peritos ao analisarem o serviço contratado no lote que trata do trecho da ferrovia entre Palmas e Anápolis, em Goiás, contratado, segundo o jornal por R$ 622 milhões.

“Comparando os preços das construtoras e os do mercado, acharam (a PF) diferença superior a R$ 100 milhões”, sustenta o jornal na reportagem de Fernando Melo e Dimmi Amora, direto de Brasília. A reportagem intitulada “PF encontra superfaturamento nas obras da Ferrovia Norte Sul”pode ser lida também pela internet neste domingo.

Costumo dar um desconto nestas cotações “por fora” que se faz para serviços prestados a governo. Seja federal ou estadual, nenhum deles tem o hábito de pagar em dia. Fornecedor do Estado em geral tem que jogar no preço o custo do seu investimento, mais o custo do dinheiro entre o período que executa o serviço e o prazo médio que levará para receber. E fatalmente isso fica mais caro do que o preço à vista (ou dentro da razoabilidade de prazo que o mercado privado pratica).

Mas ainda assim, considerados todos os descontos possíveis, R$ 100 milhões é uma conta pra lá de grande. Uma margem monstruosa, que em hipótese alguma pode ser considerada normal. Nem com toda boa vontade do mundo.

O que já se tornou habitual no Brasil em matéria de obras viárias - pelo menos é o que a descoberta de uma teia de relações está mostrando – é o superfaturamento de obras beneficiando a rede de agentes públicos envolvida muitas vezes desde a sua aprovação técnica, à movimentação política para liberação de recursos de pagamento.

Muito conhecido no meio político e empresarial do eixo Goiânia/Palmas, o Juquinha da Valec está no topo da lista de suspeitos da Polícia Federal. Preso, e com os bens sequestrados por ordem judicial, será ele quem deverá explicar estes números que não fecham.

Seu patrimônio - multiplicado em oito anos, numa escala vertiginosa a tal ponto de fazer inveja a milionários habituados a jogar no mercado financeiro com sucesso - testemunha contra a lisura de sua gestão à frente da Valec.

E é com estas evidências que a PF e a Justiça, ao fim e ao cabo, trabalharão.

A todos nós, meros mortais que não conseguem imaginar quanto é uma pilha de dinheiro destas (R$ 100 milhões), fica a pergunta ainda sem resposta: onde foi parar esta grana toda? Na conta e nos bens de Juquinha? Pode ser. Mas ninguém opera um esquema destes sozinho.

Vamos esperar que esta investigação traga respostas concretas sobre os trilhos mais caros da história do Brasil. Construídos a passo de tartaruga também em solo tocantinense, desde que a obra foi lançada há 25 anos, ainda no governo Sarney.

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