A falta de água, o alerta dos mananciais e a agência que não vingou

Sim, é irritante abrir a torneira, com a conta de água paga e ver míseros pingos caindo dela...

 

A rotina do palmense mudou radicalmente no quesito falta de água a partir da segunda quinzena de agosto.

 

Em algumas quadras a situação está preocupante. Um amigo, empresário me ligou dia destes 8h30 da noite para perguntar se estávamos acompanhado a crise no abastecimento, e disparou: “tem 30 dias quase que eu não tomo banho em casa”.

 

Ele mora no oitavo andar de um prédio na rica e fina antiga Arse 21. No final de semana foi a vez da comunidade da zona Norte sofrer o drama. Sábado inteiro sem água na 307 Norte. Há 10 dias visitei uma amiga muito ciosa do seu jardim, na 108 Sul. Ela adotou uma área baldia em frente a sua casa e plantou bananeiras. Todas estão com as folhas amareladas, morrendo...

 

Lá não tem água para o básico. Quem dirá para regar o jardim. Ela que paga duas contas para um terreno só -  um hidrômetro separado para o jardim -  reclamou horrores.

 

Para nenhum destes casos a Foz/Saneatins tem solução. A recomendação da gerente regional é uma só: usem seus reservatórios. Quem não tem, obviamente, deve providenciar um. É um clima árido de sertão nordestino o que se abateu este ano em Palmas. Está mais seco do que nunca. Danoso para a saúde. E nem estamos na sofrida região Sudeste para onde o governo enviou caminhões cheios das cisternas da Dona Dilma.

 

Os mananciais

 

Não é de hoje que alertamos aqui sobre a baixa contínua, ano a ano, dos nossos mananciais. Em Taquaruçu comprei uma briga enorme quando me opus e fiz campanha contra um loteamento às margens do Taquarussuzinho, num terreno em declive. Apontei que mataria o córrego naquele ponto. A obra nunca saiu do papel. O Naturatins não permitiu, mas o problema lá continua.

 

O fato é que desde as obras da estrada em cima da serra, que o maquinário trabalhando em cima de uma região de nascentes reduziu o volume de água da Cachoeira do Roncador visivelmente. E com ela, o do córrego. E já não produzimos mais água como antigamente na região Sul de Palmas. Esta, ainda bem melhor servida do que o Centro Norte, como se verifica nas palavras da gerente regional da Foz/Saneatins.

 

Verdade: nossos rios e córregos estão morrendo. Por vários motivos: gente retirando água sem dó nem piedade, material de construção descendo com a enxurrada para dentro dos mananciais, desmatamento nas margens ( em Taquaruçu, um crime, continua acontecendo. Já alertei há pouco mais de um mês o presidente do Naturatins).

 

Vendedora de água, a Saneatins, desde antes da junção com a Foz, assumiu a tarefa de conscientizar a população e resgatar o Taquaruçu e o Taquarussuzinho. Mas não é suficiente.

 

Assistindo às últimas edições do Fórum do Lago, desde o tempo em que atuei na comunicação da extinta secretaria de Recursos Hídricos, não é de hoje que escuto falar que teremos que usar água do lago.

 

Está aí também a confirmação, o número do investimento (R$ 98 milhões), e o prazo.

 

Mas não é só isto.

 

Conflito de interesses

 

Em toda esta crise de abastecimento pela qual a capital passa, e não só ela, como se vê no noticiário, perguntei à representante da empresa se não foi feito um planejamento para esta alta do consumo.

 

Dizer que aumentou a demanda e comparar agosto com janeiro (mês das águas), é um desplante. Dizer que não sabia que ia aumentar, também não. Este processo vem acontecendo há 3 anos.

 

É aí que o bicho pega. A empresa é boa, o esforço é notável para contornar os problemas, mas a situação que estamos vivendo está acima de todas as justificativas. O que resolve problema de falta de água, é água. E não explicações.

 

Em meio a tudo isto, quem tem que fiscalizar, cobrar e multar a Foz/Saneatins quando ela deixa faltar água na casa do consumidor, é o governo do Estado, via seu agente regulador, a ATR, num claro conflito de interesses.

 

Baixada a poeira da polêmica votação na Câmara de Palmas, que sepultou o projeto da Agência Municipal das Águas, fica a nítida impressão de que os vereadores cometeram um erro estratégico ao escolher mandar o recado do seu descontentamento ao prefeito derrubando este projeto.

 

Abriram mão de que o município, que não é sócio da Foz/Saneatins, fiscalize suas ações, cobre pelos seus erros. Um péssimo negócio. Como se vê, há 15 dias.

 

Acima das questões partidárias e de interesse empresarial, que não nos interessam aqui, é de se sonhar com um controle maior de um bem tão essencial quanto a água. A sociedade palmense já está organizada o suficiente em ONG`s e entidades que podem participar deste processo ativamente. Ajudando a cuidar deste patrimônio e a fiscalizá-lo sob a ótica do consumidor.

 

Que ninguém se ofenda, se isto for possível, mas repito: este patrimônio é nosso. Cabe a nós tomar conta.

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