Pós eleição, as fissuras que ficaram na Assembleia

Eleição na Assembleia Legislativa terminou com vitória de Toinho Andrade, mas a condução do processo deixou fissuras. Especialmente com Luana Ribeiro, sucessora de Carlesse na Casa...

A votação em torno da presidência da Assembleia Legislativa na sexta-feira, 1º, não surpreendeu. Pelo menos não em torno do presidente eleito, deputado portuense Toinho Andrade, que emplacou 21 votos do total.

 

Os outros três votos foram divididos entre Luana Ribeiro, que votou em si mesma, mantendo seu nome até o final; deputado Júnior Geo, que registrou candidatura solo e votou em si mesmo também, e um voto nulo. A incógnita.

 

A maioria de Toinho Andrade esteve ameaçada - segundo comenta-se nos bastidores - no final de semana que antecedeu a votação. No sábado anterior o governo descobriu que entre nove e 10 deputados poderiam votar na deputada Luana Ribeiro. Conta-se que por conta dessa incerteza na base, o vice-governador Wanderlei Barbosa foi articular dentro da Casa, na segunda-feira passada, para contornar insatisfações.

 

Na sexta, a deputada já sabia que a vitória de Toinho eram favas contadas. Disse ter liberado seus companheiros para não sacrificá-los, afinal, “ninguém quer bater chapa para perder”.

 

Sem se conformar em fazer a linha de que estava tudo bem, Luana desabafou, acusando a interferência do Araguaia na eleição da Casa: “nunca precisei que governo colocasse a mão na minha cabeça para que eu fosse nada. Eu sou Luana”.

 

A frase forte e a resposta evasiva quando questionada sobre se havia rompimento em curso ou não, dá a entender que ficou uma fissura grande na relação entre Luana e o governador Mauro Carlesse, que sabe-se, pediu votos pessoalmente para Toinho. Mas pode ser que nem tudo esteja perdido.

 

Parênteses...

 

Cerca de 10 dias antes, a própria Luana teria ido ao governador e se declarado “de coração aberto” para discutir o assunto e ouvi-lo, podendo até retirar a candidatura num acordo. “Entre perder uma eleição e perder um amigo, prefiro perder a eleição”, teria dito a deputada. O governador negou que tivesse candidato.

 

No caminho de Luana duas “traições”: Eduardo Siqueira e Eduardo Bonagura. O primeiro teria se reaproximado da deputada e usado dessa proximidade para miná-la. Vilmar de Oliveira tem a mesma reclamação sobre o colega deputado. Já o segundo teria feito um acordo com a deputada e em seguida rifado no Palácio o mesmo acordo...

 

Fecha parêntese.

 

Desde que o mundo é mundo e o Tocantins é o Tocantins, governos interferem, ou tentam interferir, na eleição da Assembleia. Alguns com uma taxa maior de sucesso que outros.

 

Nada contra Toinho Andrade, que é um deputado de carreira, com a fama de ser companheiro leal. Ele próprio já tentou anteriormente construir uma candidatura a presidente, na época de Marcelo Miranda governador, e não conseguiu.

 

Acontece que depois que virou moda cassar governador e o presidente da Casa se transformar em mandatário nos eventuais mandatos tampão que ocorreram, ninguém quer mais se arriscar.

 

O que dá o que pensar é como o jogo de forças funcionará na Assembleia daqui em diante. De gente próxima à deputada Luana Ribeiro, ouvi que ela não está rompida com o governo... ainda, mas que a relação “trincou”.

 

Correu na véspera contra ela na base do governo a acusação de ter incentivado a operação Espectro contra seu principal opositor, o que deixou a deputada inconformada. No grupo do governo só quem a defendeu foi o deputado Amélio Cayres. “Eu conheço a Luana, não é do estilo dela”, teria dito Cayres. Mesmo perdendo a disputa para presidente, a deputada foi elegante: votou nos demais companheiros de base que estavam na chapa única.

 

O próprio Cayres foi rifado no acordo prévio para ser vice-presidente. Na garantia dos votos de Toinho, a promessa foi feita também a Eduardo Bonagura. Nilton Franco, que tinha recebido carta branca para correr atrás de seus votos, terminou acomodado.

 

Esta decisão, sobre quem registrar como vice na chapa oficial, foi a mais demorada. No vai ou não vai, Caryres retirou seu nome ao ver que não tinha a maioria da base. Fabion Gomes chegou a registrar seu nome “pelo Bico do Papagaio, região importante que não está representada nesta chapa”, disse ele. Para em seguida retirar a pedido de dois deputados.

 

Até a última hora, Luana deu trabalho na insistência de manter seu nome. “Não deu, bola pra frente”, disse ela ao final da sessão.

 

Novos mandatos, mesmas posturas 

 

Ninguém duvida de quem é governo e seguiu a orientação do Palácio apenas manteve-se onde estava, e atendeu o pedido do governador e do vice.

 

O que chama a atenção no caso desta votação é a mensagem que a Casa passa à sociedade já no começo de uma nova legislatura. Os novos deputados eleitos - com exceção de Júnior Geo - resolveram seguir os acordos de praxe e referendar o nome que tinha a maior probabilidade de vitória. Pouco se importando com o recado que isso deu à opinião pública.

 

Seja com acordos por lugar na Mesa Diretora, ou apoio para presidir comissões importantes, os novos deputados que chegaram passaram recibo na máxima de que não interessa em que práticas o novo presidente esteja envolvido, ou do que seja acusado. Questionando um deles, ouvi que alguns chegaram à Casa com muitas dívidas e muita gente para empregar: precisam das cotas do governo.

 

Apenas Júnior Geo fez questão de marcar posição e manter-se afastado do blocão que elegeu Toinho. Parafraseando Karl Marx, numa frase que ouvi outro dia da secretária municipal de Educação, as pessoas se dividem entre as que vivem no “estado de necessidade” e as que vivem no “estado de liberdade”. 

 

Entre os novos, Geo se colocou no segundo grupo. Sua atitude diz claramente: “meu mandato é meu, foi conquistado sem o governo e votarei independente, dando satisfação apenas à minha base”. Começa com o pé direito. Poucos estiveram nas mesmas condições.

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